National Wellness Institute

Alice Costa
9 min readJul 13, 2021

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Projeto Ironhack

O desafio agora seria entregar um protótipo Hi-fi criado do zero. No brief fomos apresentados ao National Wellness Institute, uma instituição de ensino que oferece cursos e congresso em áreas relacionadas a bem-estar e qualidade de vida.

Segundo o brief, a empresa gostaria de criar ferramentas digitais e atualizar sua imagem. Para começar nós tivemos que selecionar uma das áreas de atuação mais recorrentes no ramo de saúde e bem-estar.

Meu parceiro de projeto e eu resolvemos pesquisar o tema gerenciamento de cuidados crônicos.

Empatizar

Pesquisa de mesa

Iniciamos a pesquisa procurando definições e estatísticas para entender quais eram as doenças crônicas mais frequentes no Brasil e quais eram seus tratamentos. Ao compreender um pouco mais do que são doenças crônicas percebemos duas coisas: 1) doenças crônicas são muito variadas e seria melhor que definíssemos uma só para o escopo do nosso projeto; 2) pessoas ao nosso redor sofrem de de doenças crônicas, foi ai que surgiu a ideia de falar sobre Fibromialgia, um dos diagnósticos dos quais tínhamos algum contato.

A Síndrome Fibromiálgica é uma doença crônica que tem como principal sintoma a dor intensa e constante. A grande maioria das pacientes são mulheres. O estudo estatístico mais recente estima que cerca de 2% da população brasileira (mais de 4 milhões de pessoas) sofra da doença. Apesar disso a doença é relativamente nova, tem sintomas bastante intensos nos pacientes e poucas soluções projetadas para ajudar essas pessoas. Entendemos como uma oportunidade de buscar uma solução de valor para essas pessoas.

Em paralelo, nossa pesquisa de mesa também buscava informações sobre o mercado de aplicativos de saúde e que tipo de recursos eles ofereciam para o tratamento de doenças crônicas. Em sua grande maioria, os aplicativos tinham como feature principal a função de diário, onde pacientes mantinham anotações relacionadas aos sintomas, efeitos dos remédios e quaisquer variações em sua saúde, para ter mais controle sobre a doença e uma percepção mais detalhada sobre o seu tratamento.

Pesquisa Qualitativa

Demos início então às entrevistas com as usuárias. Desde o início do Bootcamp nenhum tema envolveu um tema tão sensível como esse e isso foi bastante impactante na fase das entrevistas. Empatizar com o sofrimento das usuárias foi uma experiência nova e bastante intensa.

O tema principal das conversas era a dor, sua intensidade e múltiplas consequências. Essa dor é constante no cotidiano dessas mulheres. Sua intensidade varia e quando atinge os picos mais altos, durante as crises, elas não conseguem sair da cama. Essas crises podem durar dias, em alguns casos até semanas. A dor também limita muito a capacidade física das pacientes que deixam de fazer coisas simples como tarefas domésticas.

Outra consequência é o efeito nos relacionamentos uma vez que a dor afeta o humor das pacientes, impõe limitações e tem como outros sintomas quadros como a depressão e a ansiedade. Muitas pacientes se queixam de se sentirem sozinhas e incompreendidas em suas dores.

A doença, muitas vezes classificada como “invisível”, não é evidente para quem vê de fora, o que em muitos momentos faz com que pacientes sejam interpretadas como “exageradas” pelas pessoas do seu convívio. Alguns relatos apontam essa dificuldade de expressar a dor até na interação com médicos, que, ao não entender a intensidade do problema, receitam analgésicos fracos que não ajudam em nada.

Além das entrevistas, passamos a acompanhar as postagens de um grupo de pacientes no Facebook. Lá essas percepções se confirmaram nas postagens, que em sua maioria eram reclamações de dor, mas também falavam sobre a indiferença da família e outras questões emocionais.

Com as descobertas das entrevistas já organizadas, aplicamos o Empathy Map, mas com muitos problemas levantados, seguimos para a fase de definição.

Definir

O paciente Fibromiálgico sofre de diversas formas e por isso essa etapa foi particularmente difícil e importante nesse projeto. Definir e priorizar um problema em meio a tantos foi um grande desafio.

Elaboramos então nossa Persona, a Regina. Além de Fibromiálgica, Regina é mãe e vive com o medo de se tornar totalmente dependente dos outros. Ela se sente incompreendida em sua dor e sofre com a indiferença dos filhos.

Ao aplicar o How Might We, ficamos divididos em dois problemas, mas acabamos dando mais peso ao problema que estava mais próximo da área de atuação da National Wellness Institute. Por isso decidimos definir o problema como:

“Pessoas Fibromiálgicas se sentem sozinhas e incompreendidas em sua dor e precisam de suporte emocional para amenizar seus sintomas e conquistar mais qualidade de vida”.

Idear

Com o problema colocado passamos para uma rodada de Brainstorm para levantar possíveis soluções. Entre as possibilidades surgiram relações que definiram a nossa declaração de hipótese:

“Nós acreditamos que criando um grupo de apoio para portadores de Fibromialgia alcançaremos um ambiente de conexão e troca.

Nós sabemos que estamos certos com a permanência dos usuários na plataforma”.

Uma grande influência nesse caminho foi o Flo, um app projetado para controle menstrual. Ele surgiu durante nossa pesquisa de Benchmark quando começamos a considerar soluções que não fossem exatamente projetadas para o contexto médico. O Flo tem como principal feature uma espécie de diário, onde as usuárias inserem informações em relação a alimentação e outros fatores que influenciam seu ciclo menstrual. Além dessa função existe uma espécie de rede social dentro do app, lá as usuárias não criam posts (eles são criados pela equipe), mas elas podem comentar e interagir neles. Além de discutirem e trocarem experiências entre si, o app fornece a opinião de um médico especialista para esclarecer algumas dúvidas.

Além de parecer assertiva considerando o problema, a hipótese de criar um grupo de apoio também era reforçada pelo comportamento que observamos no grupo do Facebook. Neste ponto do processo resolvi entrevistar algumas pessoas do grupo e perguntar o que motivo de sua participação por lá. O padrão que surgiu das respostas pode ser representado por essa resposta:

“Não me sinto só, tenho com quem dividir o que sinto com pessoas que sentem o mesmo que eu, sem julgamento.”

Consideramos então algo que fosse um meio termo entre as duas experiências. Do Facebook o maior benefício era o espaço aberto para se expressar, inclusive criando um post, desabafando sua dor livremente e recebendo o apoio das pessoas. A parte ruim, segundo algumas usuárias, era a repetição de reclamações sem uma perspectiva construtiva que se desenvolvesse a partir disso. Do Flo os benefícios eram o controle de ter as discussões agrupadas e não repetidas, e o parecer do médico que dava uma orientação técnica e confiável. Afinal se o assunto é saúde, seria irresponsável deixar palpites técnicos sendo publicados sem moderação.

Por fim, encontramos também pesquisas acadêmicas defendendo a terapia em grupo com pacientes de Fibromialgia. O artigo reforçava a importância da terapia em grupo como uma forma de aprender a lidar com a dor e abordar a grande variedade de aspectos pessoais e sociais que influenciam a dor crônica.

Assim passamos a enxergar no grupo de apoio uma oportunidade de integrar os profissionais da National Wellness Institute como mediadores. O que fazia bastante sentido considerando as dimensões social e emocional, presentes nas Seis Dimensões do Bem-Estar, a base conceitual e teórica usada pela instituição.

O grupo seria tanto um lugar seguro para se expressar, quanto um lugar seguro para esclarecer questões médicas e emocionais.

A partir da hipótese começamos a criar uma série de User Stories e dali foi surgindo um maior esclarecimento das possibilidades que viriam do grupo de apoio. Dividimos os Stories em categorias, uma mais voltada para dúvidas técnicas relacionadas a medicações e tratamentos, e outra mais voltada para os aspectos emocionais e psicológicos da doença.

Assim terminamos de definir em teoria como se daria a solução: seria um grupo de apoio digital. O grupo é composto de cinco pacientes Fibromiálgicas e um terapeuta formado pela Wellness. Suas principais funcionalidades são o espaço “Conversas”, um espaço de postagem e diálogo entre o grupo, e os “Encontros”, que podem ser virtuais ou presenciais (considerando o contexto pós-pandêmico). Nos encontros o mediador, idealmente um psicólogo, conduziria como sessões de terapia em grupo e em situações ocasionais outros profissionais como reumatologistas, psiquiatras, coachs e outros tipos de terapeutas poderiam participar para tirar dúvidas.

Prototipar

Nosso caso de uso tinha como cenário nossa persona Regina recebendo uma notificação do app. A notificação era a resposta que ela havia recebido em um de seus posts, em que a mediadora do seu grupo validava seu desabafo e a convidava para abordar aquele sentimento no encontro do grupo. Abaixo as duas principais telas do protótipo: a interação no grupo (“Conversas) e a seção “Encontros”:

Aqui pode se observar a capa com as definições do grupo (imagem e título) e os participantes a mediadora (com informações relacionadas a sua formação) e as pacientes.

Na parte inferior, temos a seção “Conversas” com o espaço para a criação de um novo post e a interação com posts passados. Nesse caso Regina está visualizando as respostas que recebeu em seu desabafo.

Nessa segunda tela podemos observar a seção “Encontros”, onde vemos o card “Terapia em Grupo”, que seria o encontro semanal entre os membros do grupo e o “Visita Dr. Giovanni”, em que um reumatologista participa como convidado.

Elaboramos também a versão desktop da plataforma, partindo de um design responsivo e executando as mesmas funções do protótipo mobile.

Em relação ao aspecto estético, nós buscamos tornar o grupo um espaço confortável e acolhedor e voltamos nossas escolhas de cor, formas e tipografia nesse sentido.

Caso queira conferir o projeto, vou deixar ele linkado aqui. Feedbacks por lá são super bem vindos.

Testar

No teste de conceito as usuárias validaram a ideia e expressaram interesse em usar o aplicativo. Durante os teste de usabilidade com o protótipo Mid-fi algumas melhorias foram apontadas, como por exemplo a inclusão de um menu na barra superior e a sinalização de notificações dentro do app. Essas alterações foram aplicadas já na primeira versão Hi-fi.

Novos testes levantaram problemas maiores, relacionados a hierarquia das funções e a divisão de atenção do usuário. Estamos considerando essas mudanças para futuras iterações.

Como teste de desejabilidade aplicamos o Microsoft Reaction Words e o resultado apontou impressões positivas dos usuários com as palavras “Interessante”, “Inovador” e “Profissional” como as mais recorrentes.

Conclusão

Escrever esse caso de estudo ressaltou para mim a profundidade da pesquisa nesse projeto. Me senti bastante satisfeito com o caminho que percorremos e sinto que a solução foi muito bem embasada.

Aprendi muito ao longo dessas duas semanas. Me envolvi muito nas entrevistas da pesquisa qualitativa. Vi as ferramentas de definição funcionarem de maneira muito eficiente e consegui desenvolver um pouco mais minhas habilidades de UI no Figma.

Mas o mais importante foi perceber o potencial de realmente ajudar pessoas e resolver problemas reais. Iniciei o contato com a Anfibro, Associação Nacional de Fibromiálgicos e Doenças Correlacionadas, e gostaria muito de continuar desenvolvendo o projeto e de fato implementar a solução para essas pacientes.

E você, o que achou do projeto? Estou aberta aos feedbacks.

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